terça-feira, 12 de janeiro de 2010

As tardes naquela galeria

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Eu amava aquele local.

Aos 17 anos, o centro da cidade de São Paulo exercia um fascínio sem igual em mim... e um dos temperos dessa paixão era a Galeria do Rock.

Naquele local mítico, aonde comprava posters e cd's raros, a então office girl paquerava lançamentos e curtia vitrines como a da "Túnel do tempo" (lembram do tiozinho mercenário?) e achava preciosidades na "Baratos e Afins". Depois de um tempinho, um fã-clube dos Beatles foi inaugurado também, a "Magical Mystery Club".

Era a música que nos movia até lá. Depois do trabalho na rua, passava o resto da tarde naquele prédio, flanando pelos andares. Gostava de ver aquele povo meio mamulengo, desencanado conversando sem preocupações. As meninas eram poucas, mas me sentia bem ali.

Neste Dezembro último, fugindo de compras convencionais, lá estava eu, em frente àquela velha amiga da Rua 24 de Maio, tantos anos depois.

Mas agora sem uma camisa xadrez amarrada na cintura, sem um cigarro brincando entre os dedos, sem os passes de estudante contados. Apenas o mesmo sorriso ao virar a esquina do Teatro Municipal.

A Galeria ainda continua a olhar para o Largo do Paissandú, mas ela também está diferente.

Sinal dos tempos. As lojas de música, agora tímidas, não disputam mais a preferência do povo amontoado alí... acordes ficaram em segundo plano, viraram mp3 por vezes desconexos dos seus primorosos álbuns de origem. A impressão é que o que traz o dinheiro por ali são garotas e sua ânsia pelo armário meio Avril Lavigne: muito tule, babados pretos, um estilo "vampiro-purpurina"... caveirinhas fofas convivendo com pinups necrotério. E Melissas.

Sim, Melissas na Galeria do Rock, quem diria? Me pareceu meio non-sense no primeiro momento. Mas eu hoje também uso as delicadas sandálias de plástico, como catalogar as coisas?

Aquele prédio da São João mudou. A gente mudou. O mundo mudou.

Ainda bem que meu CD duplo do The Doors continua em casa, testemunha das tardes vãs naqueles corredores tão... rock.

É nessas horas que penso como é bom ter história pra contar. E que bom que tem uma trilha sonora tão gostosa, tão nossa.

Saudosismo à parte, "For those about rock We salute you".

5 comentários:

RODRIGO RUDIGER disse...

Sensacional... recordar é viver, mesmo... existem vários locais em Sampa que também me trazem lembranças desse tipo, nostalgia pura... Alguns mais acadêmicos, como o Centro Cultural Vergueiro e o Memorial da América Latina (pelas suas bibliotecas, e com elas várias lembranças da época primária e ginasial). Outros, como a própria Praça Ramos, onde nunca enxergo as Casas Bahia, e sim o Mappin... É até fácil sentir o cheiro do primeiro McDonald's que conheci, levado pela minha mãe, dentro do saudoso prédio do Mappin... Fala sério: os locais não mudam de todo, só agregam mais coisas... Se você entrar e procurar sua lembrança antiga, vai encontrar, nem que seja em uma janela que foi conservada...

Vivi disse...

Hahah... É verdade sobre o Mappin! Nem quando virou Extra, nem quando virou Casas Bahia. Eu tenho saudade do Salão de Chá, vermelhinho, art deco.

Jak disse...

Eu aqui em um dia especialmente melancólico lendo um post saudosista. Ê dona Vivian! Obrigada por mais este! =)

Realmente, a Galeria do Rock não é mais a mesma! Esse monte de tules, babados pretos, caveirinhas fofas e melissas... culpa da geração emo? Ò céus!

Katz disse...

Adoooooooooooorei! Também tenho saudades de lá... agora virou reduto de emo, credo!

J.G.N. disse...

Cara, já citei a Galeria num dois posts meus com a mesma saudade - e eu tenho só 20 anos! É um lugar que mexe mesmo com sensações esquisitas e remete muito à trilha sonora pessoal da juventude. No meu caso, bandas escandinavas de dark wave e industrial. Pasme: não conseguia baixar mp3 desses grupos! Tinha que ir até a Galeria comprar CDs originais ou piratas (piratas caros) pra conseguir ter ao menos os principais hits.

Ah, e fica o convite pro meu novo blog, VidaLocke: www.vidalocke.blogspot.com. Aposentei o antigo. Sigam-me os loucos!